27 de dezembro de 2013

Querido Blue,

Já chegamos a finais de Dezembro meu amor. Ontem veio-me á cabeça: como seria este universo se existisse uma teoria exacta para descrever em geral cada homem deste planeta. Numa mesa falava-se de espécies. No entanto a minha questão era descobrir a tua. E aí sim. Reparei que és do tempo desta máquina azul, podias até ser um soldado renascido dos tempos da revolução, anos 74, quando ainda se usavam cravos em vez de armas. Nesses tempos faziam-se espécies como a tua, quando os homens em vez de flores ofereciam amor. Nesta altura do ano é impossível desejar outra coisa. O teu beijo é uma mistura perfeita juntamente com as cartas e é por isso que nunca foste apenas mais uma personagem dum filme. Quero que saibas que vivo para TI E PARA MIM: Se um dia estiver longe escreve-me. Porque só nas tuas palavras e em ti, reside todo o amor do meu corpo.

Com amor,
Alice

14 de setembro de 2013

Homem anti social. 
Eu que sou nada parei der repente em melancolia. 
Em silêncio mergulho várias vezes em tinta negra. 
Naquela tinta derramada onde a respiração tirada do rosto a superfície da minha água. 
Meio louco. 
O meu rosto parecia desafiar uma chuva de golpes. 
A pele amarelada colada aos ossos lisos da minha cara. 
Esqueletos do crime. 
Um cúmulo de iniquidades que sai da minha garganta. 
Um homem que existe. Um fechar do coração. Parei de sangrar.

30 de agosto de 2013

No parapeito da janela coberta de chuva cinza olhava as ruas escuras na malignidade surda.
Rapidamente o meu corpo expeliu um suor derretido que prolongava-se a uns quantos quarteirões longe da alegria queimada ao sol.
Reproduzia repetidamente diante do reflexo os gestos mecânicos que a assassina me fazia reviver.
Gestos mecânicos esses que me guiam á verdade.
Eu nunca a conheci Yuki ... (Não Blue sempre a conheceste)
Inclino a cabeça e reparo na lâmpada que brilha num recanto sob a prateleira  do piano de um som não desconhecido.
Uma antiga partitura na fragrância de um papel frágil.
Rapidamente este acto  que executa na solidão de um quarto azul deixado durante horas na sensação censurada por mim próprio sente um fragor surdo de um comboio antigo que passou na leitosa neblina a pouca distância dos candeeiros.
Um antigo olhar abandonado.
Um antigo olhar que repentinamente filtrou o negro através das pupilas cinzentas deste meu peixe.
Uma dúzia de linhas para dizer que tudo mudou.
Agora é outro mar outro vale outra cor.
E assim me perco no verde forte das invertebradas artérias do nosso vale não domesticado.

31 de janeiro de 2013


Por vezes sinto-me papel.
Frágil feito de fumaça e osso naquele cheiro que desaparece de rua em rua.
O tempo é como um cigarro que evapora na rapidez com que o vento cinzento passa.
Quando estou longe e vejo que sigo um rumo mas que os outros permanecem na linha de avanço vermelha é fodido pois é quando engulo em seco o riso calculado no último minuto de despedida.
Sempre fui aquele que quer o pouco no muito da linha esguia contraditória.
Desta forma ainda permaneço de mãos trêmulas no pranto daquele ser forte que uiva na noite de lua cheia onde derrama o azul pavão sob o silêncio que cai dos pardais de porta fechada enquanto os violinos serpenteiam o paraíso da solidão partilhada.

Aqui vazo a  1 página do livro da minha sombra de água fresca