10 de dezembro de 2012


Terra seca.
Vento molhado.
Fonte de vida transgrida naquele estranho ser que grita.
Se eu fosse carne?
Seria um peixe.
Se eu fosse uma linguagem?
Seria lava.
Se eu fosse humano?
Seria azul.
Um molde, um mistério, uma metamorfose insaciável que imana tinta num planeta desconhecido.
Os lobos uivam sob a lua nascente.
As borboletas renascem queimadas ao sol.
Os cães inalam palmas sob prantos de crianças.  
Uma visão análoga incoerente capaz de cortar cada pedaço proveniente de uma voz medrosa do sentimento que percorre ruas de azeite naquele mar de estátuas nas horas escuras da cegueira.

23 de outubro de 2012

Construímos a nossa casa entre o espelho e o azulejo sobre um estendal de ruínas.
Ao redor das dunas mais do que animais somos leões diurnos sobre o tempo da tela branca na terra-de-ninguém.
Somos estrangeiros no silêncio de paredes azuis de um tom transparente jamais esquecido.
Longe das inverte bradas artérias da cidade domesticada manchada pelo vicio crepuscular de cafés cheios de cães e de náuseas.
Desenho-te de madrugada.
Um desejo louco de realizar-te com sangue quente latejando nos meus pincéis enquanto percorrem sorrisos no arcaísmo da viela onde fizemos amor.
Transportamo-nos com a lentidão do movimento persa na ganga coçada  onde dissimulamos muito e bem o lume fogoso das coxas.
Um movimento supremo tesudo na insonia do olhar.
Uma cama alta funda que se dissolve num clima intenso de foder tudo sobre a esplêndida tesão.
Tudo passa pelo nosso desejo no tempo aturdido na imensa lenha ardida na inabordável clandestina sombra que é nossa.
Na página 3 sobre os nossos beijos umedecidos 2 Corpos Um Só dissolvidos no vento das manhãs tardias sobre os olhos daquele alguém que ainda devora o meu mundo.

20 de setembro de 2012

Dois paradigmas omnipresentes.
Dois seres terrestres inacabados e sobressaltados naquela pressão aérea sob lava de vulcão.
Dois indivíduos tanta gente impulsionados numa maré livre das ruas sob a multidão imensa em revolta.
Amor.
Amor agora que voltaste para mim agarra as minhas 3 asas.
Uma perdeu-se e necessito dessa tua persistência enclausurada nesse teu olhar que finalmente me perdi.
Expulsei a semente.
Sabes?
Aquela semente doente daquele pulsionar tingido de um sabor esfumado largado ao vento.


Quero voar.
Vamos voar sem rumo?



23 de julho de 2012

Um pai que por 3 vezes envenenou o filho.

Um retrato de um bom pai ausente com o qual procurava substituir na memória das recordações que dele não tenho.
Nunca me pareceu justo que o excesso do álcool justificasse cada conclusão precipitada.
Pode até ser que fosse que seja que sempre tenha sido.
Conversa de surdos já se vê.
Conto mesmo que este retrato me coma a carne como uma unha que apodrece naquela crosta provisória que há-de despertar em mim aquilo que o tempo camuflara.
Sempre vivi na ilusão do sentimento mas pior ainda é sentir que nunca deveria de ter nascido pois a partir desse momento é como se fosse um fardo e tivesse ficado preso a esta puta de vida ambiental.
O mal foi quando comecei a pensar em matá-la enquanto chorava e tapava a boca com as mãos para ninguém me ouvir e continuava a matá-la até ficar com uma massa de sangue no cimo da torre instável.
Acho vezes sem conta que estou a ficar louco.
Um louco-suicida já se vê.
Palavras constantes que me rasgam o mundo de leite seco em que está mergulhado o meu passado e me deixa perceber os contornos esbatidos deste país distante onde ainda me perco e do qual ainda não encontrei saída.
Mas a realidade é que não passo de um ser frágil que acompanha a paisagem e aguarda cair no vale aonde vão os suicidas reconfortados naquele pedaço do mundo de que me habituei a gostar.

19 de maio de 2012

5 de abril de 2012

Revestido nas paredes que tingem de cor azul o imaculado sangue que verte nos meus pincéis.
Traço riscos no corpo escamado que atingiu a clavícula esquerda.
No ar paira um suco gástrico que obriga o corpo contorcido a sugar cada gota dioxina que derrama na tela plástica.  
Ao fundo sob a parte direita uma luz fragmentada que não me parece ser suficiente para revestir a pobre carne habitada.
Debate-se no clorado passado cru e duro num rebobinar de corpos imigrados e vigorosamente decifrados.
Uma ilusão que derrete a tinta azul da minha pele e queima a mente do falso espectador.
Uma criação alusiva  ao futuro forte criado na maré das águas semi-transparentes revestidas pelo sol queimado do inferno.
Puta deusa que olha por mim e martela no recipiente estereotipado onde perfura 3 buracos no meu peito e me vê morrer lentamente e levemente.
Sim já sei vagamente enlouqueci.

15 de fevereiro de 2012


Neste estridente dia nebuloso a frágil semente despertou a delicada beleza.
O som inacessível da tua entidade tocou nas margens da minha terra.
Rondou a minha árvore formando círculos perfeitos que expeliam o teu fértil aroma nas pupilas dos meus olhos vestidos de fogo.
O cheiro antigo voltou.
Um cheiro característico que alimenta a metade mais gasta do meu corpo.
A tua voz rapidamente penetrou a minha mente e fez-me renascer das cinzas.
Agora percebo que na escassez da minha vingança a tentativa de suicídio foi inútil.
Sinto-me farto de bocejar no abismo e espero realmente que o silêncio que enterrei durante anos nunca mais regresse ao nosso vale.
Vamos abrir a terra e semear o sentimento que tanto amávamos?
Quero sentir o fecundo beijo da palavra branca.
Saborear essa tua pele que abandonei.
Desejo descobrir novamente o nome da balança a sinceridade do nosso azul.
Aquele azul berrante que me transforma num autêntico pavão e cicatriza todo o sangue pecado celeste que rodeia a minha clavícula esquerda.
Perdoa a gula dos meus erros.
Volta a snifar o meu amor.
Pois assim caminharei em direcção ao teu corpo que se encontra a 33 quilómetros e 23 metros e dai renascerá os 2 CORPOS 1 SÓ.